1.
A primeira vez que andei “sozinha” de avião (e a segunda no total da vida até então) foi no início de 2010, para Salvador. De lá, sem deixar o aeroporto, seguiria para a Chapada Diamantina, também em uma aeronave. Era um voo da Trip que só saía aos sábados e que aterrissava num poeirão bastante afastado das pequenas cidades e povoados. Uma escolha terrivelmente amadora, como sei hoje: cara, menos prática do que nos parecia e que rendeu uma pernoite desconfortável até o embarque. Existem várias fotos minhas cochilando na calçada por não aguentar o vento gelado do aeroporto. Éramos dois nenéns, eu e meu amigo Mário, que segue comigo amanhã para mais uma temporada de estrada juntos. Pela Bahia again. Agora um pouco menos ingênuos.
1.1
É mais preciso dizer “viajar de avião”, mas “andar de avião” é uma expressão fantástica.
2.
Terei onze dias de FÉRIAS RADICAIS.
Por isso, semana que vem não tem newsletter. Já deveria estar nessa frequência desde o último dia 4, mas não cheguei nem perto disso.
Eu sou minha própria Paula Lavigne.
3.
Aliás, vou aproveitar esta edição malajambrada para falar com vocês sobre a Eu faço listas, pois acho que comecei de modo abrupto. É possível que esta newsletter tenha chegado no teu e-mail sem pedir licença. Isso porque eu recuperei (em duas fases) um banco de assinantes de uma newsletter que fiz em 2017, no contexto do luto pela morte de meu pai. Na época, eu usava o mailchimp e compartilhava experiências que estava tendo com uma série de terapias alternativas, naquela que foi certamente minha fase mais mística e ritualística.
No total, a caranguejar teve poucas edições, mas a adesão e o retorno me impressionaram. Quando iniciei a formação em arteterapia, optei por encerrar aquele ciclo de relatos públicos, porque começava a me estruturar enquanto profissional da clínica. As questões mudaram, e eu, nossa, mudei pacas.
Recentemente, enquanto lidava com novas tormentas relacionadas ao “modo como deveria usar as redes sociais” (assunto da EFL #2) me dei conta de que consumia cada vez mais newsletters, então pensei em voltar a produzir conteúdo nesse formato. Por aqui, consigo escrever textos mais longos sobre tópicos que me interessam, unir alguns conteúdos de vida pessoal e profissional (biscoito & merchan) & ter um diálogo mais produtivo com as pessoas, ainda que o alcance seja bem menor.
São pouco mais de 200 inscritos até agora, alguns assinantes pagos (o que eu sequer imaginava que era possível neste primeiro momento) & comentários, likes e compartilhamentos sempre muito estimulantes para quem está dedicado tempo a estas mal traçadas linhas. Poxa, obrigada mesmo.
Minha ladainha aqui é sobre literatura, editoração, artes e comportamento. Começando, com frequência, do meu próprio umbigo, mas sempre na tentativa de chegar em algum lugar mais generoso e coletivo com as ideias rabiscadas.
O desafio é que ela seja semanal, sempre às segundas ou terças.

4.
Se o universo das newsletters te interessa, eu recomendo ouvir o podcast Newsletter Economy, que reúne autores brasileiros de conteúdos variados (sobretudo uma galera de marketing, tecnologia e inovação) e explica a ferramenta, compila dicas, orienta sobre plataformas diversas e alerta para problemáticas relativas ao Substack. Sim, eu mal cheguei e já tenho um plano de fuga desta plataforma. Por quê? Porque o Substack começa a querer performar a lógica de rede social.
Mas… se você apenas recebe seu texto por e-mail, lê e segue a vida, nada disso vem ao caso.
5.
Hoje comentei que sou viciada em “projetos”. E semana passada, na supervisão de arteterapia, dividi alguns pensamentos críticos a respeito desta ode à criatividade de nossos tempos. Ser criativo é exaustivo, ter ideias a todo momento pode levar a surtos de mania, ainda mais com a quantidade de recursos e estímulos disponíveis.
Pessoas com esse perfil precisam encontrar estratégias de descompressão, liberação e arquivamento de ideias. Precisam estabelecer critérios para descarte. Precisam descobrir seus métodos de esvaziamento. Cansa muito.
6.
Talvez esta newsletter também seja, quem diria, sobre esse grande papo sobre criatividade que tem movido o mercado & o mundo lá fora.
7.
Uma amiga me mandou uma mensagem desejando boa viagem. Suas últimas palavras foram: “Vc merece descanso!!”
8.
Em 2010, quando chegamos no Vale do Capão, na Chapada Diamantina, não havia sinal de celular. Eu ligava todo dia para a minha mãe do orelhão do coreto, e ela esbravejava por eu ter escolhido ir para um lugar onde era difícil me acessar. Essas, sim, foram férias radicais. Outra vida dentro desta. Duvido muito que a Paula Lavigne que habita em mim vai deixar eu passar sequer 24h sem responder whatsapp de trabalho. A cruz da criatividade.
LISTA DA SEMANA
🤮 3 festas do censor ocorridas (ou tornadas públicas) na última semana neste país 🤮
Nos últimos dias, acompanhamos a sanha dos censores deste país, sempre babando para controlar discussões importantes e moralizar o texto literário. Gente tão ignorante quanto truculenta e mal-intencionada.
Recolheram o livro O avesso da pele, de Jeferson Tenório, de escolas no Paraná e em Goiás, que venceu o Jabuti na categoria Romance Literário e aborda a questão do racismo.
Proibiram uma mãe de entrar com o livro Os velhores marinheiros, de Jorge Amado, em uma penitenciária de Minas Gerais, onde parece que a literatura está sendo negada aos encarcerados de forma generalizada.
Nova diretoria do Sesc está minando o livro Outono de carne estranha, de Airton Souza, laureado pela própria instituição. O Prêmio Sesc de Literatura, promovido em parceria com o Grupo Record, é um dos mais importantes do país, mas tem futuro incerto diante do atual quadro diretor, que, inclusive, demitiu o idealizador e coordenador da premiação.
& uma iniciativa contra a censura, porque nem só de mal-estar vivem os leitores desta newsletter:
CLICK
drops de vida profissional
Tem livro que é apaixonante de editar. Eram muitos leões é um lançamento da Cepe Editora que deve chegar nas livrarias em fins de abril. O tipo de narrativa que me encantava no Ensino Fundamental e que, desde a leitura do original em Word, eu já tinha uma boa ideia da estética/atmosfera que queria para a edição. A ilustrações são de Fernando Athayde. O projeto gráfico é de Janio Santos. Coming soon.
ANTES DE IR
quem ainda não ouviu o disco desta galera, lançado ano passado, está na hora hein. busca aí: radiola serra alta. com jessica caitano gerando.