1.
Tanto quanto pode me afligir, escrever também tem o potencial de me acalmar.
Escrever, por exemplo, uma lista. De afazeres, de estresses, de coisas que precisam ser feitas. Isso dá certo contorno a estes momentos em que o enredo parece mais fora de controle que o habitual.
Escrever por aqui, mais caótica que sempre, também para me consolar e fingir que não ando bastante em falta com este espaço.
Escrever com a internet roteada do celular, porque o notebook não localiza de jeito nenhum o wifi de casa. Escrever enquanto a água do café seca na panela pela segunda vez já que minha atenção está sendo consumida pelo problema da internet.
2.
Lá se vão dois meses buscando uma saída para outro ciclo de dor no manejo da endometriose [falei disso na EFL #11]. O miolo do ano, ali entre abril e agosto, me fez acreditar que um corpo sem dor era possível. Esquece. Cá estou, humor podre, sem treinar, socializando muito pouco, gastando tempo precioso no Instagram, palco onde sinto que preciso estar para divulgar o livro novo, mas com o qual mantenho uma chatérrima relação compulsiva, de onde gosto de me retirar por períodos curtos ou longos para fins de higiene mental, ainda que isso gere bullying e especulação.
3.
Ah, sim, o livro novo. Para receber ainda em novembro, precisa assinar a caixinha do Círculo de Poemas até 10/11. Está disponível aqui: https://circulodepoemas.com.br/produto/cacto-na-boca/
A partir de 10/12, mais ou menos, será possível adquirir em livrarias.
4.
O Círculo de Poemas também divulgou uma playlist que eu fiz no processo de criação do livro.
É uma playlist de que gosto muito. Zero careta.
5.
Carol Bensimon escreveu recentemente sobre essas questões de redes. Questões que estão sempre voltando.
(Falei um monte disso na #EFL 2)
Particularmente, me parece importante entender qual é seu calo com esses recursos para saber dar limites. Para alguns, basta desinstalar o app. Conheço quem faz isso de segunda a sexta, e reinstala e usa de sexta a domingo. Conheço quem tira da tela inicial e o problema é magicamente atenuado. Sei também de outros tantos que não estão preocupados com isso, que não sentem que a rede lhes coloca uma questão ou que as julgam um mal necessário. Modos e modos de vida, psiquês e psiquês. Presas mais ou menos fáceis. De tudo, tem.
Sei que vários usuários têm problemas de ordem, digamos, mais passiva, e podem passar horas vendo stories alheios na frente da tela. Geralmente, a queixa é a perda de tempo, e o mal estar pode vir de comparações persistentes. No meu caso, como sou viciada em interagir, algo que precede as “novas” mídias, algo que precede a própria internet, são meus traços comportamentais de autoexpressão, extroversão e impulsividade o que me deixa mais vulnerável em ambientes que potencializam ou hiperestimulam as trocas.
É desgastante, por isso desativo a conta com frequência. Essa é a mágica que definitivamente funciona para mim, seja por 48h, uma semana ou três meses.
Sempre que saio, escuto alguma gracinha. Sempre que volto, escuto outra. No entanto, tem funcionado como sair de férias e voltar de férias. Tirar uma folga. Pode parecer exagerado, mas, por aqui, sair dessa rede instaura silêncio e reencaixa o corpo. A que ponto cheguei – chegamos.
6.
Além da endometriose, esse livro em si me revirou do avesso, comparei ele a um parto avalanche neste post, de onde?, sim, do Instagram. Quando ele seguiu para gráfica, larguei as questões de linguagem e fui arrastada para seus assuntos. Senti-me tragicamente exposta. E me dei conta de que eu, mundialmente conhecida pela minha falta de inibidores básicos, como pudor e vergonha; eu que não tenho senso de adequação muito calibrado e me aproximo do outro com uma ânsia constrangedora de intimidade; eu que mesmo nesta newsletter sou capaz de apresentar as imagens de meu exame de ultrassom endovaginal; bem... eu talvez nunca mais escreva um livro tão pessoal.
Descobri-me uma anti-Annie Ernaux por excelência nessas últimas semanas.
Achei curiosíssimo.
7.
Por fim, compartilho alguns grifos com vocês de Arte e medo, livro que saiu pela Seiva e que tem um highlight na contracapa que diz: este não é um típico livro de autoajuda. Os dois últimos me falam muito de perto.
O fatalismo é uma forma de medo – o medo de que o seu destino esteja nas suas mãos, mas que elas sejam fracas.
As preocupações dos apreciadores não são as mesmas que as suas (embora seja perigosamente fácil agir como eles). A tarefa deles é outra, seja qual for: ser tocado pela arte, ser entretido por ela, lucrar com ela, tanto faz. Já você tem a tarefa de aprender a trabalhar em sua obra.
Até que seu navio zarpe, as únicas pessoas que vão se importar com seu trabalho são aquelas que se importam pessoalmente com você. Aquelas próximas o bastante para saber que fazê-lo é essencial para o seu bem-estar.
O desenvolvimento de uma obra imaginada em direção a uma obra real é uma progressiva diminuição de possibilidades. [...] Uma obra finalizada é, na verdade, um teste da correspondência entre imaginação e execução. E talvez, surpreendentemente, o obstáculo mais comum para alcançar a tal correspondência não é a execução indisciplinada, mas a imaginação indisciplinada.
8.
Agora já me sinto um pouco mais calma.
DIGA TRÊS
PEQUENAS HONRARIAS
minha simpática EFL foi citada em uma newsletter de que gosto muito e que já indiquei aqui, sobre tecnologia: Manual do Usuário.
meus sinceros agradecimentos aos assinantes pagos desta newsletter: aaron athias, ana célia melo, armando antenore, ingrid melo, luiza dantas, mário firmino, nathalia pereira, poliana castro, rafael moura e raquel galvão.
muito obrigada por apoiar este projeto.
parece uma besteira, mas motiva pacas!