chegamos a última edição do ano desta newsletter, que ainda não tem certeza do seu formato nem da sua periodicidade, mas, se você segue por aqui, é porque ela deve tá se encontrando.
disparei a primeira edição da EFL em fevereiro, e esta é a décima sétima que escrevo. chegamos a 397 assinantes. poxa, muito obrigada por ter acompanhado, lido e trocado ideias comigo neste ano.
desse montante, 10 assinantes são pagos. e eu prometi que haveria conteúdo exclusivo, e eu espero cumprir algum dia. por agora, vocês sem dúvidas cumprem um papel de mecenato sem igual, mantendo a chama dos meus dedinhos teclantes acesa.
considere fazer a vida de uma artista que escreve mais digna com a assinatura de dez reais mensais. passando o chapéu no botão que segue. & feliz 2025 a todos que ainda leem, seja esta newsletter sejam outras coisitas mais.
Cuidar é prestar atenção
Mais de uma vez, mais de duas, certamente mais de quatro vezes, já me perguntaram como eu sei qual das minhas cachorras fizeram xixi em algum lugar da casa quando dou de cara com a arte. Geralmente eu respondo que elas se entregam assim que eu reclamo, a responsável se encolhe em algum canto de forma mais evidente. Só que antes mesmo disso acontecer eu já sei quem foi a meliante. Isso pela quantidade de xixi, pela cor e concentração, pelo horário e pelo lugar da casa. Não sou mãe e ainda sou bastante ruim cultivando plantas, mas com a recente experiência de ser tutora de bichos tive clareza de que cuidar é simplesmente prestar extrema atenção em algo. E quando falamos de vida, seja ela mais ou menos complexa, então se trata de prestar muita atenção em um corpo físico e seu funcionamento, no comportamento de um ser, na sua personalidade e na sua troca com o mundo.
Logo, é sintomático que ao vendermos nossa atenção, no âmbito do que chamamos de “economia da atenção” para as big techs, inevitavelmente desviemos das práticas de cuidado de quem ou do que quer que seja. Meu pessimismo algorítimico é brutal.
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Solteiros vs Casados
Eu nunca entendi o conceito de “vela”. Nem quando sou a “vela”, nem quando integro o casal. A monogamia, o autocentramento romântico e a percepção da pessoa solteira como alguém que pode tomar o que é meu (claro, um terror inconsciente quando se trata das próprias amizades, porque, em geral, ninguém olha pros seus esperando talaricagem) divide o mundo em dois.
Casais fazem programas com casais; solteiros fazem programas com solteiros; famílias filhocentradas se juntam a outras famílias com filhos. Com frequência variável, a depender da autonomia e personalidade dos envolvidos, os integrantes do casal têm seus vales-night-de-pessoa-física. Em momentos mais raros, casais e solteiros se encontram e se misturam. Eis o mundo monogâmico & heternormativo.
Não é que esses mundos não se toquem, mas diria que falta certa espontaneidade e, frequentemente, interesse mútuo entre as categorias (além de sobrarem julgamentos). Falta abertura. Um casal não pensa em chamar um amigo solteiro para fazer uma viagem juntos como organiza uma viagem com outro casal; uma pessoa solteira não pensa em um casal de amigos como companhia para sair num rolê. E exceções confirmarão a regra.
Nos mundos com e sem filhos, a diferença se acentua. E fico pensando no quanto algumas pessoas se isolam nos seus relacionamentos antes de terem filho e não percebem que isso também tem impacto na sua falta de rede apoio mais tarde (incluindo aqui as pessoas sem filhos, supostamente com mais tempo; e digo supostamente por existirem sempre outras variáveis, como classe social e condições materiais).
Aliás, pessoas fora de um relacionamento e sem filhos não raro são vistas como pessoas presas numa espécie de adolescência ou como menos responsáveis, por “não terem conseguido” passar para o próximo level, como se o script casar e ter filhos fosse uma marca evolutiva e se traduzisse necessariamente em processos de amadurecimento & desenvolvimento pessoal mais qualificados.
E, ao terminar de escrever esse fragmento, sabendo que muitos devem discordar, acho assombroso que em pleno século XXI isso seja, no mínimo, 75% verdadeiro, de acordo com o meu DataIntuição.
Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos séculos XVIII, XIX, por aí.
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Por que a comunidade http não usa PrEP?
Participei não só de uma, mas de DUAS lives neste mês de dezembro. Fiquei preocupada de ser um sinal de pandemia à espreita. Fato é que uma delas foi um pouco inusitada já que eu estava na condição de “voz da experiência”, ou seja, fui para falar sobre a minha vivência naquele assunto e não na condição de especialista. E o assunto era… autonomia na prevenção do HIV.
Era a rodada da mulher cis & hétero <fui lá ser a cota HeTeroToP>, e foi uma conversa ótima, que notamos também ser urgente, já que talvez esse seja o público (pessoas heterossexuais em geral) que menos conhece e usa outras opções de prevenção quando o assunto é HIV.
Muitas mulheres correm para a pílula do dia seguinte quando surge a possibilidade de uma gravidez indesejada, mas ninguém se preocupa em tomar PEP quando se coloca, do mesmo modo, em risco. A situação a qual a profilaxia pós-exposição está associada (no universo de mulheres heterossexuais) é apenas a de violência sexual.
E a PReP, que facilitaria muito a vida de pessoas que não conseguem usar preservativo pelo motivo que for, tampouco é difundida. Mix de preconceito, desinformação e moralismo, além de falta de oferta, de acesso e de iniciativa. Tem essa conversa aqui.
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Citação da citação da suposta citação
“Sinto muita curiosidade. Nós sabemos, né? Gosto muito de um dito que, se não me engano, é da Hannah Arendt, ou ela citou: nós todos sabemos que vamos morrer, entretanto sabemos que não nascemos para morrer, nascemos para continuar.” - Paulo Mendes da Rocha, em entrevista não sei para quem nem para onde.
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Livro novo à venda
Agora sim. Está disponível para venda o meu livro novo, quentinho e espinhento. Para espetar muitos dedões.
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